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Museu Municipal de Barbacena

Atualizado: 28 de ago. de 2018






O tempo passa ou nós que passamos por ele? O tempo é de fato contável ou é uma invenção nossa para amenizar certa inquietação? Digressões filosóficas, momentaneamente postas de lado, se o tempo passa ou não, o fato é que a gente passa pelo mundo e nesse ínterim novas histórias se compõem. Os museus são guardiões de memórias que identificam épocas e justamente o transcorrer do tempo. Será que estamos realmente no caminho de deixar vir à tona integralmente a nossa humanidade? Estamos sempre em processo de vir a ser e os museus nos contam isso. Relatam o que hoje, por exemplo, consideramos inacreditável. A escravidão no Brasil, a título de exemplo. Mas a História não é só feita de capítulos repulsantes. Há aventuras, romances e novas invenções. Tudo o que atiça a curiosidade e nos faz compreender o presente.


No alto da Mantiqueira, não se sabe se o tempo passa por Barbacena ou se esta transcorre por ele, já que há a reflexão supraproposta. Contudo, Barbacena contando mais de duzentas primaveras, já viu muitas histórias florescerem e muitos invernos acentuados que a caracterizam. O Museu Municipal de Barbacena tem a razão de ser o contador de algumas das narrativas que muito delinearam a história do município.


Localizado na Praça Conde de Prados em um casarão em estilo colonial, construído em 1810, o Museu Municipal foi instalado na antiga residência do político comendador João Fernandes de Oliveira Pena, antigo capitão-mor da localidade. Sua descendência resultou em um grande ramo político, sendo que sua família foi a base do Partido

Conservador de Barbacena.


O acervo do Museu é composto por uma rica coleção de artigos, peças e fotografias que muito relevam sobre o passado da cidade e cumpre o papel de nos explicar um pouco sobre o presente. Há em seu interior sequências de fotos que constroem um paralelo entre paisagens e bens de Barbacena de tempos mais longínquos e dos tempos atuais; representações e peças de imigrantes italianos que com sua mão de obra e cultura própria muito somaram na história do município; salas específicas que contam um pouco da história de grandes figuras políticas natas aqui como a Sala da família Andrada e da família Bias Fortes; reunião de artigos e amostras de seda fabricadas na Sericícola de Barbacena e que revelam a importância econômica que teve a sericultura na região; há também preservado no porão a antiga tipografia do Jornal Cidade de Barbacena, fundado no ano de 1898; galeria de fotos de personalidades expressivas de Barbacena; sala de armas antigas que conta também com curiosa armadura; e, entre

outros tantos artigos interessantes, há também paramentos litúrgicos.


Concernente à sua arquitetura, o sobrado possui fachada frontal em único plano destacando sete janelas e dois cunhais nas extremidades feitos em pedra e recobertos por massa. As janelas são em madeira com duas folhas externas em estilo veneziano e duas folhas internas em caixilho de vidro liso. Pela lateral se dá o acesso principal através de um portão de barras de ferro ladeado por duas colunas em alvenaria. No patamar superior da escada feita em pedra e em formato de onda há um pequeno jardim. A porta principal é composta por duas folhas de madeira almofadadas e por uma bandeira fixa

de vidro em caixilho de madeira.


O sobrado foi erguido sobre um embasamento de pedras assentadas com barro e seu sistema estrutural autônomo de madeira. As vedações em parte foram feitas em adobe, outras em pau a pique. A edificação possui partido retangular e um pátio interno que leva ao porão de pé direito alto que ocupa integralmente a projeção do sobrado no

plano inferior.


Seguindo a volumetria da edificação, o telhado é composto por quatro e duas águas e a cobertura é em telhas de barro do tipo capa e bica. Os forros são na maior parte do imóvel em madeira do tipo saia e camisa coberto com pintura acrílica. No pavimento principal, o piso é em tábua corrida larga. Parte do piso do porão é cimentada, outra

parte é em tábua corrida de 15 cm.


Curioso o fato de o sobrado ao longo do tempo, mesmo com um passado tão rico, consta em seu histórico períodos de abandono e certa negação de sua relevância. De fato ocorreram algumas intervenções que contribuíram para a sua preservação, uma

delas finalizada em 1999 para abrigar o próprio Museu Municipal.


A contagem do tempo foi sempre uma forma de driblar certo desassossego comum à existência de todos. É uma das formas que o nosso vão controle se manifesta. Nascemos, crescemos e, indubitavelmente, morreremos. Fundamentados nesta certeza única, era de se refletir melhor sobre qual pegada queremos deixar no mundo. Museus são como moradas de histórias que além de proporem esta reflexão, dizem muito sobre a passagem do tempo e o que fazemos com o tempo que nos é dado. Será que o honramos como devíamos? Dizem que o tempo passa cada vez mais rápido, porém

talvez sejamos apenas nós que estamos mais acelerados por dentro.



Autor: Lílian Ribeiro Mendes Apolinário

Fotos: Victor Hugo Vieira

 
 
 

1 Comment


André de Castro
André de Castro
Aug 29, 2018

Lindo texto !!

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